O Grão de Mostarda e o Tamanho do Meu Nada

É reconfortante a experiência de, por horas a fio, noites em claro, buscar algo de mim pra oferecer a Deus e descobrir depois de todo o tipo de tribulação e lágrimas, de males me atingindo por todos os lados, que não tenho nada para oferecer.

É muito belo olhar pra mim e me revirar do avesso pra ver se me aproveito em algo para dar àquele que tudo me deu ao longo de toda a minha vida, mas, depois de uma busca dolorosa, meus lábios fracos sussurrarem: “Senhor, eu não tenho nada, eu não sou nada”.

O nada é minha semente, meu grão de mostarda; o nada é minha fé polida e lapidada que eu planto no coração de Deus e ele faz crescer com toda a delicadeza, sabedoria e misericórdia. Essa é a fé que move a montanha do coração de Deus. A fé de quem é nada, plantada, escondida no Meu Tudo.

Latens Deitas

Jesus, meu Deus amado e escondido.
Velado sob um branco e fino véu.
Quão grande és tu para caber no céu?
Quão simples, tu, para ser meu amigo?

Ouvindo então que moras cá em mim.
Confesso logo que não compreendo:
Por que habitar bem neste quarto horrendo
Se tens no céu o repouso sem fim?

O teu silêncio respondeu minha dor:
Sabendo, tu, que sou mísero assim,
Estás aqui no meu interior
Pra, com amor, proteger-me de mim.

Luz do mundo

Cristianismo: há quem o olhe de fora e o imagine ser uma filosofia. Pode haver também quem o entenda como uma forma de ver o mundo. Diria que o cristianismo é a plenificação da filosofia tal como busca pela verdade, como amor à sabedoria. Uma vez que o verbo, ou seja, a palavra, a razão criadora, a perfeição do pensamento se fez carne, encontramos a verdade, nela tocamos, dela ouvimos segredos da Eternidade, alimentamo-nos dela inclusive.
O cristianismo é mais que uma forma de ver o mundo: por onde aparece na sua forma autêntica, é a Luz que verdadeiramente esclarece o que é o mundo com suas seduções, a carne com suas paixões e o diabo com suas tentações.

A ferida da Pureza

Nem se quer eu existia
Já pensavas Tu em mim
Criaste Tu os luzeiros
Separaste noite e dia
Logo então me criarias:
viveria eu sem fim.

Mas, sem fim, minha liberdade,
Tal confiança me puseste,
Foi alvo de tiro certeiro
Ferindo-me a vaidade
Pequei fugindo à verdade
da pureza que me deste.

Pensava agora andar só
Ouvi teus passos no jardim
Era Deus um missioneiro
Inclinando-se ao pó
Miserável, pobre pó
Que o pecado fez de mim.

Delicadas tuas mãos
Estranhei suas feridas
“Não és Tu Deus, o Primeiro,
Forte, Poderoso e São?
Sangra o teu coração!”
“Manchando-me com meu sangue
Resgatei tua pureza.
Morrendo por ti na cruz
Devolvi tua beleza.”

Deus Ferido

Ódio: vendo ou troco por amor

O ódio não tem outra função senão a de dar o sinal: “eu preciso ser amado”.

Uma das estranhas belezas do cristianismo é entender os gestos de agressão que os humanos fazem diariamente uns contra os outros como um verdadeiro apelo por atenção. Aquele que se sentiu atacado seja por um olhar fulminante, uma palavra furiosa ou um gélido silêncio, sabe o tamanho da ferida que ganhou neste assalto à 4 pedras nas mãos.

No entanto, cada golpe sofrido, cada gota, ainda que simbólica, de sangue derramado, traz uma ferida aberta, de cuja fenda se espera que seja jorrado amor. Aquele que agride, nada mais faz além de uma dolorosa oração clamando por algo que o cure de suas próprias chagas.

A prova por excelência desse clamor oculto: Jesus Crucificado. Por suas chagas, por suas feridas, pelas fendas abertas no seu corpo, pudemos nós experimentar do amor de Deus. Cristo se deixou ferir a fim de que tivéssemos em nós o amor necessário para retornarmos à graça de ser imagem e semelhança do Amor-por-excelência.

Será que eu passo?

se os passos me fossem palavras
se a estrada me fosse um papel
eu saberia compor os meus mapas

mas os meus caminhos nao sao
meus

meus passos nao sao passos meus
também

e meu sonolento vazio de passos
me faz escrever versos sempre tao tortos
que eu mesmo nao sei se conseguem andar

tao pouco onde os passos me farao chegar.

repito os passos como repito as palavras.
talvez por falta de vocabulário
talvez por falta de passos pra dar.

talvez por medo de somente andar.

Vai, frio.

O frio chegou.

Veio sem rima, sem poema, sem canção.
Veio sem som qualquer.

Não trouxe uma novidade, uma palavra amiga.
Nem notícia ruim.

Apenas veio.

E como um velho e conhecido alguém, sentou do meu lado como se apenas no olhar pudesse saber tudo o que eu não estou passando. E veio gelar meu coração, diminuir meu pensamento, meu ritmo, meus passos. É quase uma prisão interior.

Eu não lhe ofereci comida alguma, apenas uns remédios. Talvez um chá ou outro. Mas nada que curasse o vazio e a interrogação.

O frio me olha estranho. É um olhar redundantemente gelado, que não diz nada, mas pergunta tudo.
Como se eu tivesse resposta…

As vezes eu ponho um cachecol azul, uma jaqueta preta, uma blusa marron, pra ver se ele percebe que eu preciso continuar meus afazeres e se retira. O máximo que ele faz é olhar pela janela vendo os carros passarem.

Outro dia pensei que ele também quisesse ir embora, até sonhei que eu o pedia claramente que se retirasse.

Sonho besta…

Cabide e tudo que é teu.

Se sua vida couber no meu instante,
Seus discos na minha estante,
Sua vida nos meus versos,
Seu jeito nos meus avessos.

Se seus olhos fitarem meu prato.
Seus dedos tocarem meu tato.
Se seu gosto couber em meus livros.
Suas mãos me fizerem mais livres.

Seus passos, junto com os meus
caberão na eternidade.
Sua mentira ao sorrir
Dará mais vida às minhas verdades.

Re-leitura (2012)

Havia escrito um texto imenso, mas tenho aprendido a zelar pelas coisas simples.

Quero por aqui agradecer, primeiramente a vocês que tem lido o que eu escrevo e se identificado com os textos, poemas, frases, em tantas fases da minha emoção. Para mim escrever é viver. Já que tanto escrevi – ja que tanto vivi, fico agora com o gosto em reler a vida que passou por este 2012.

(Ao som de Johm Mayer)

Releio o imenso incomodo que me havia na faculdade, quando eu procurava uma liberdade que só a arte poderia me dar. Foi então me apresentado o meio audiovisual: uma espécie de máquina de realizar sonhos. Passar pela oficina de cinema do Tela Brasil, conhecer pessoalmente Laís Bodansky, Edu Abad, Juca de Oliveira (o ator) e ser ensinado pelo grande Fabrício Borges, foram decisivos pra alimentar em mim o desejo de atingir uma grande meta na minha vida: ser diretor de cinema.

Tendo entrado nesse mundo mágico, contra qualquer regra e a favor de qualquer maluquice sonhadora, larguei a faculdade de Psicologia que lutei tanto pra conseguir entrar. Bolsa de 100% na PUC, depois de ficar a duas vagas atrás da lista da USP, não é tão fácil assim, pode crer.

Deus nunca deixou de iluminar meus passos.

Agradeço a Deus pela vida do parceiro, Wagner, o fotógrafo que tem me apadrinhado, me ensinado tantas coisas, graças a ele sou freelancer de uma agência muito importante em São Paulo, prestando serviços em eventos CULTURAIS de grande porte!! – Teatros, Orquestras Sinfônicas, Encontro Nacional de Corais, enfim… Só gratidão.

O Bonde continua andando, há momentos de grande dificuldade, mas Deus sempre inspira o presidente Bruno e, mesmo muito tendo preferido as luzes passageiras da vida, muitos de nós ainda ficamos e perseguimos a verdadeira luz: Jesus Cristo, meu melhor amigo.

Fazer arte pra Deus ainda me enche de alegria: neste ano nos tornamos a Companhia I Tipi Loschi, trabalhando pela Pastoral das Artes. O amado padre Fernando está agora em outra missão, distante territorialmente de nós, isso corta o coração. Mas como ele mesmo disse, “Creio na comunhão dos Santos”, e agora é Jesus quem nos une ainda mais fortemente.

Padre Emerson veio até nós, para uma rápida, mais enriquecedora missão. Cada palavra dita por ele, grita forte dentro de mim, sua forma de falar com Deus é contagiante e fará muita falta entre nós. É um excelente amigo e pastor. Ainda não caiu a ficha de que ele também se vai…

São muitas as coisas que me aconteceram, boas e ruins, encontros e despedidas. Ainda choro a morte do meu tio Nei. É algo mto difícil de acreditar… Assim como a Ligiane e o Eric choram a do Matheus, seu filho de 4 meses. Mas a morte deve acontecer para todos nós um dia, pois só assim veremos o que é verdade face a face e sairemos da injustiça desse mundo.

E assim como acontece a morte, também nos ocorre,a cada batida do coração, a vida.

Agradeço a Olívia por ter me ajudado a realizar tantos sonhos, e por ter me ensinado a sonhar outros. Graças a ela estou idealizando a criação da minha empresa, onde a Vida será o assunto principal em cena.

Obrigado, Carol, por ter aceitado se tornar minha madrinha. Mesmo que ninguém entenda e pergunte: “madrinha de que?”. A resposta não importa. O que importa é o tanto que sua amizade e seus conselhos me ajudaram a passar por coisas muito difíceis esse ano.

Fernandinha e Bruno. É lindo demais trabalhar do lado de vocês. Vamos ver o que Deus, a vida e a arte nos reservam esse ano.

Peço perdão e perdôo a todos que passaram por minha vida até este momento.

Também agradeço a Deus pelas novas pessoas que ele me tem apresentado. Algumas em especial me dão vontade de amar, uai.

E que venha 2013. Que já está sendo pra mim um ano de ESPERANÇA e de AMOR.

Em 2013 eu quero amar.